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quinta-feira, 21 de junho de 2012









                                ÁS LÁGRIMAS DO PALHAÇO


  Minha profissão me fez sonhar com a esperança de um mundo melhor. Fazer os outros sorrirem, esquecer por algumas horas o sofrimento e caos. Sou palhaço por natureza. Não sei bem o que ouve, mas, com o tempo a maquiagem passou a cobrir minhas olheiras profundas e a expressão depressiva do meu rosto. Enquanto arrancava gargalhadas, maquinava um meio de fugir e voltar para minha realidade. Fumar crack! Meu espírito despedaçava e dava brecha e uma explosão de maldades. Perdi meu circo para a droga. Minha opção foi calçar as pernas de pau e me dirigir ao sinais de transito. Batalhar pelo consumo. Em casa, vendi até a esperança da minha esposa. O bujão de gás, DVD, minha alma. Meus filhos se ajoelharam e choravam para que eu mudasse de vida. Não consigo lutar contra o poder destruidor do crack. Quanto mais tentava, mais aumentavam as maldades.
Uma situação me marcou muito. Cinco minutos antes de entrar no picadeiro, uma ligação me pega totalmente desprevenido. Meu irmão foi assassinado com oito tiros na cabeça. Como fazer o público sorrir depois dessa? Entrei, pedi um minuto de silêncio e a emoção tomou conta de mim. A lágrima deixou um rastro na maquiagem e meu coração não agüentou tamanho sofrimento. Você pensa que eu pedi para nascer? Que eu queria continuar vivo? Sabendo que depois do espetáculo o cachimbo me faria esquecer todos os sentimentos pela morte do meu irmão.
Voltei a viver e Deus me mostrou o Caminho da Paz. O mundo precisa sorrir e eu farei dele um picadeiro.

                                                               André Monteiro
                                                                     
 

 
 

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