ÁS LÁGRIMAS DO PALHAÇO
Minha profissão me fez sonhar com a esperança de um mundo
melhor. Fazer os outros sorrirem, esquecer por algumas horas o sofrimento e
caos. Sou palhaço por natureza. Não sei bem o que ouve, mas, com o tempo a
maquiagem passou a cobrir minhas olheiras profundas e a expressão depressiva do
meu rosto. Enquanto arrancava gargalhadas, maquinava um meio de fugir e voltar
para minha realidade. Fumar crack! Meu espírito despedaçava e dava brecha e uma
explosão de maldades. Perdi meu circo para a droga. Minha opção foi calçar as
pernas de pau e me dirigir ao sinais de transito. Batalhar pelo consumo. Em
casa, vendi até a esperança da minha esposa. O bujão de gás, DVD, minha alma.
Meus filhos se ajoelharam e choravam para que eu mudasse de vida. Não consigo
lutar contra o poder destruidor do crack. Quanto mais tentava, mais aumentavam
as maldades.
Uma situação me marcou muito. Cinco minutos antes de entrar
no picadeiro, uma ligação me pega totalmente desprevenido. Meu irmão foi
assassinado com oito tiros na cabeça. Como fazer o público sorrir depois dessa?
Entrei, pedi um minuto de silêncio e a emoção tomou conta de mim. A lágrima
deixou um rastro na maquiagem e meu coração não agüentou tamanho sofrimento.
Você pensa que eu pedi para nascer? Que eu queria continuar vivo? Sabendo que
depois do espetáculo o cachimbo me faria esquecer todos os sentimentos pela
morte do meu irmão.
Voltei a viver e Deus me mostrou o Caminho da Paz. O mundo
precisa sorrir e eu farei dele um picadeiro.
André Monteiro
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