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sexta-feira, 22 de junho de 2012




                                           "GRITOS DE DESESPERO"

  Como pude ser tão sujo? Dei as costas a todos aqueles que amei. Minhas fotos de infância, sempre sorrindo. Sonho com meus sábados em família. Não entendo o que ouve. Meu mundo  desmoronou e só me restaram o pó e as cinzas. Muito sofrimento. Já se imaginou correndo contra um precipício e caindo, sem medo ? Em busca de ilusão barata. Prefiro que não tenha fundo e que a dor me faça esquecer. Sabe como me sinto? Nas ruas, vendo todos vocês supostamente felizes ? Com seus filhos, seus carros. Eu era um deles! Hoje sou a raspa da panela do diabo. Humilho-me por uma tragada de crack.. Perdi todos os meus valores. Fiz sexo com homens que não escolhem a idade. Crianças drogadas são seus pratos preferidos. Sequei as lágrimas de todos a as joguei aos ventos Prefiro a rua. Um barraco sujo, cheio de latas ao chão. Urina e fezes pelos cantos. Convivendo com ratos e baratas.
  O demônio não me deixa morrer. O que ele mais deseja e ver um filho de Deus se ajoelhando em sua presença. Vocês pensam que eu me  importava ? Uma faca banhada de sangue em minhas mãos. Partir meus pulsos, as vezes, era a única coisa que eu tinha em mente. Gritos de desespero abafados pelo lençol, enfiado na boca. Deitado na cama suja, as marcas dos meus dedos na parede. Alucinado, esperando um chute na porta. Vultos me cercando, vejo caras endiabradas na parede, piscando e sorrindo da minha situação. Uma mãe que nunca fumou crack não tem idéia do que passa na vida de um usuário. As vezes oram para que possamos morrer e as deixar em paz. Eu tenho que achar uma saída, me ajudem!

                                                             
                                                              André Monteiro
                                                          Relatos de anônimos 2011

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